Queria ser um animal e conjugar o verbo "ser" no infinitivo. Três letras e um grande teorema. Há aqueles que abrem mão de conjugar verbos em primeira pessoa — para alguns, estes são loucos. Mas o que há de loucura em subordinar uma oração a um sujeito oculto? E não há, na própria língua, uma ideia de coletivo? Em francês, ser e estar correspondem unicamente ao verbo "Être". "Être" pode ser deslocamento — seja passado ou futuro. A palavra "poesia" é um verbo de passagem? Afinal, é em meio a rimas e metáforas que se deslocam os sentimentos, bons e maus. O que está se movendo em meio a essas palavras que lê? Me use como "auxiliar", visite presente e passado, descubra. Apenas digo: há loucura em manter a vida no singular, se tudo o que preciso conjugar é plural. Hiago Damaciano
Amar é fazer memória. É provável que a doçura da vida more em um domingo de manhã. Amar é engraçado. Como se fosse um sorriso frouxo de quem acorda e percebe que está de ressaca. Memória é lembrança. Pensar sobre o que se passou, ou melhor dizendo, daquilo que não foi e nem será. Memória é crescer. Se dar conta de que os cabelos grisalhos de sua mãe agora nascem de sua cabeça. Memória é saudade. Descobrir que não há história de um só personagem e que ninguém entra em cena sem convite. Amar é construção. Pra além de cimento e tijolos, uma casa precisa de estrutura, então mãos à obra! Amar, amar, amar… Queria que houvesse alguma coisa na vida que não fosse memória. Hiago Damaciano
Que falta faz o tempo em que meu pranto era sinônimo de aconchego. Bastava a lágrima no olhar para que me fosse lembrado de que era um mundo, um mundo de uma mãe. Hoje, todos os dias sou lembrado de que sou um mundo. Sou apenas o meu mundo e de mais ninguém. Que dureza é construir o mundo através da caneta. É necessário ser diretor, produtor, coreógrafo, ator e plateia. Pode-se contracenar com atores, mas sempre é protagonista. Não há salva de palmas ao término da apresentação. Que falta me faz o tempo em que meu pranto era sinônimo de plateia. Plateia que recebia meu espetáculo com flores e contava dias, horas e minutos para a nova encenação. Hiago Damaciano.
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